Analisando Crest of the Stars/Sekai no Monshou para a Corrente de Reviews

  E aí, animes antigos ainda podem ser considerados bons?

  Antes de começar o post em si, permitam-me avisar que essa análise faz parte da Corrente de Reviews, um evento que reuniu vários blogs gatinhos para falaram sobre animes diversos. Para saber mais sobre o projeto e ter acesso a todas as outras postagens participantes, por favor, confira informações e links no último parágrafo.

  Seikai no Monshou, ou Crest of the Stars, como ficou mais conhecido no Ocidente, é um anime que começou a ser exibido em janeiro de 1999 e teve seu fim em março do mesmo ano, totalizando 13 episódios. Produzido pela Sunrise (a mesma produtora dos Gundam’s e de Tiger & Bunny), o anime era tudo que eu não queria ter de assistir: antigo e com temática espacial. Mas, será que foi tão ruim assim?

  A história gira em torno de Jinto Lynn, um garoto que desde cedo se vê em meio a uma grande confusão espacial. Quando ainda pequeno, seu planeta, Martine, é invadido pela dita raça superior dos Abh (pronunciado “abu” no anime, rs). O principal governante de Martine era Rock Lynn, pai de Jinto, que cede pacificamente o domínio do planete em troca de um título nome no reino dos Abh.

  O grande problema é que a população, humana, não queria essa solução pacífica. Eles desejavam lutar por sua independência e, quando ficam sabendo do ato de seu governante, acabam o vendo como uma espécie de traição. Temendo a reação da população o principal criado da família Lynn “sequestra” Jinto  pouco antes do anúncio oficial sobre a concessão de Martine e o esconde em uma cidade próxima. para que seja criado como um humano comum, e não como o filho do traidor.

  Quando cresce, Jinto decide assumir seu posto de nobre junto aos Abh e, assim, parte para sua jornada espacial, guiado pela jovem e bela piloto em treinamento, Lafiel.

  Lendo até aqui pode parecer que é uma grande epopeia até que Jinto comece sua aventura, mas não. Tudo isso se passa nos dois primeiros episódios, de forma bem maçante, diga-se de passagem. E o maior problema nesse início não é a animação que, inegavelmente, se mostra datada, e sim o ritmo dado à narrativa. Muitas cenas sem diálogos, focadas apenas em paisagens e efeitos luminosos, embalados por uma trilha sonora extremamente calma (que de modo nenhum é ruim, apenas mal utilizada) fazem os três primeiros episódios darem mais sono do que qualquer outra coisa.

  Para quem não sabe, nessa Corrente de Reviews, um blog tira o outro por sorteio e o recomenda tal anime para que seja visto e resenhado. Só que você não sabe quem te indicou a obra até poucos dias antes de sua postagem ir ao ar. Dessa forma eu confesso que, nesse começinho, xinguei muito no twitter o desconhecido (que agora sei se tratar do Evilasio do Anime Portfolio, rs s2) que havia me indicado o anime.

  Foi então que eu pensei “ah, já tenho que ver essa bagaça mesmo, então vou parar de reclamar e seguir em frente” e quando menos percebi já estava totalmente envolvido no mundo de Crest of the Stars.

  A partir da entrada de Jinto e Lafiel na Nave de Patrulha Gosroth (ou Gothlauth) tudo começa a fazer mais sentido e o universo do anime começa a ser de fato mostrado. Não vou falar mais do enredo para não estragar a surpresa, mas o apelo emocional do final do episódio 5, apesar de previsível, foi o que me fez crer definitivamente que ali tinha algo digno de ser visto. A partir daí a coisa só melhora, indo desde uma conspiração com um Barão até as tensões de uma guerra iminente entre o Império dos Abh e as quatro nações integrantes da chamada Humanidade Unida.

  Os Abh são uma raça humanoide que possuem orelhas pontudas, cabelos azulados, intelecto extremamente elevado, vivem três vezes mais que os humanos e, um são donos de um temperamento orgulhoso (visto como arrogante por muitos humanos). Suas origens são explicadas ao longo da trama, e falar sobre elas aqui iria quebrar o suspense.

  Assim, Lafiel (que se mostra mais do que uma simples piloto com o decorrer da história) é uma Abh “legítima”. Porém, cargos de nobreza dos Abh podem ser conquistados por acordos diplomáticos, como o firmado por Rock Lynn. Dessa forma, Jinto é, geneticamente falando, um humano, mas é tratado e considerado por todos um Abh. Seria algo como um “Inglês Honorário” em Code Geass. Claro que isso dá margem para alguns Abh’s nutrirem preconceito por humanos “naturalizados”, tema que é bem tratado no anime.

Holia, a trollzinha

  Com intenção de dar mais profundidade ao universo apresentado, vários diálogos expositivos se desenrolam (principalmente nos primeiros episódios) a fim de dar uma noção ao expectador de como é a vida desses Abh. Um costume deles visto como “imoral” pelos humanos é o relacionado ao nascimento. Para os Abh não há necessidade de envolvimento físico ou amoroso entre um homem e uma mulher. Eles conseguem facilmente juntar os genes de dois indivíduos (sejam eles do mesmo sexo ou não) e, assim, dar origem a uma nova vida. O pai de Lafiel inclusive brinca com a filha quando ela o interroga sobre quem é sua progenitora, dizendo que a mãe é na verdade a gata, Holia.

  Um outro grande esforço da produção em geral do anime foi o de criar termos inéditos para os dados apresentados. Nada é similar com o que existe na vida real. A escrita, unidades de medida e afins são todos “inventados” no universo de Crest of the Stars. Não me recordo de nenhum exemplo, mas seria como se um “metro” equivalesse a 70 “kleins” (exemplo meramente ilustrativo). Achei essa parte bem desnecessária, mas ao lembrar de obras que fizeram uso do mesmo recurso, como Star Trek e Star Wars, não tiro a razão dos produtores em usarem tal método que, afinal de contas, deveria fazer sucesso entre os jovens no final do século passado.

  Outra característica inusitada são os nomes completos. Eles são todos muito longos e compostos de nomes relativamente curtos. Jinto, por exemplo, na verdade se chama Jinto Lynn Syun Rock Hide, e olha que esse é dos menores ainda. Novamente o recurso visando enriquecer o mundo criado.

Nave de Patrulha Gosroth

  Creio que o grande calcanhar de Aquiles da obra seja sua direção. A começar pela abertura. Extremamente monótona, com uma música instrumental, diversas letras e informações sobre a produção (igual a começo de filme) ela mostra apenas efeitos espaciais ao fundo, como constelações, nebulosas, e afins. Quando vi isso no começo até achei legal, porque na minha cabeça seria um charme do primeiro episódio, mas constatar que a mesma chatice se repetia em todos os outros eu adquiri, o até então impraticável hábito, de pular a abertura. Sério, parecia que eu estava vendo o final de um documentário do Carl Sagan sobre cosmos no National Geographic. Estão duvidando? Desafio vocês a assistirem isto por mais de 10 vezes: clique aqui para ver a opening.

  Por sorte o encerramento salva um pouco nesse quesito. Mesmo que isento de animação, ele possui duas versões. Ambas mostram imagens que representam passagens no crescimento dos personagens principal, sendo uma a versão de Jinto e outra a de Lafiel. A música em si é boa, como a maioria das outras composições de fundo que, infelizmente, muitas vezes não foram usadas no momento correto.

  Pode parecer bobagem, mas outro problema para mim foram as prévias dos episódios seguintes. A produção montava tudo dando um ar de que alguma coisa épica sempre estava prestes a acontecer, e isso gerava uma grande expectativa que pouquíssimas vezes foi cumprida. O anime é diverto pra caramba, mas “só”. Ele não deveria tentar ser mais que isso.

  Para não dizerem que eu fiquei caçando detalhes que não foram do meu agrado, devo dizer que gostei bastante do começo dos episódios, antes da abertura, quando sempre é contada uma “historinha” (mesmo que ela seja narrada por uma voz meio tétrica) que contextualizava um pouco sobre o que ia acontecer no episódio em si e ainda de quebra mostrava algumas informações bem interessantes sobre os Abh.

  Era uma vez um viajante, que caiu na estrada sentindo dor. Um homem que passava sentou próximo ao viajante antes que ele pudesse pedir ajuda. O homem falou longamente sobre como ter um estilo de vida saudável para evitar doenças. Satisfeito com o próprio discurso, o homem se levantou e foi embora. O nome desse homem é “Humanidade Unida”. Em seguida, uma mulher muito bonita se aproximou do viajante, com um olhar inquisitivo. O viajante disse: “Não fique parada aí olhando, ajude-me!” A mulher respondeu: “Você quer que eu o ajude?” e então começou a questionar ao viajante sobre sua condição até entender todo o problema. Então ela acenou com a cabeça e partiu. Pouco tempo depois, a mulher trouxe todos os doutores, enfermeiras e funcionários do hospital mais próximo junto com ela. O nome dessa mulher e “Império Humanoide Abh”

  Essa foi a “história” que eu mais gostei e, com isso, fiquei me questionando: Afinal, quem seria o viajante caído? Não seríamos nós, os próprios espectadores?

  A relação entre Jinto e Lafiel sem dúvida é um dos pontos chave do anime. A amizade dos dois chega a ser engraçado por representar a todo instante o choque de cultura e ideologias diferentes. Volta e meia temos acesso a algumas observações que Jinto faz a si mesmo, mas somente do lado dela. Nunca é mostrado exatamente o que pensa Lafiel, o espectador não tem permissão para adentrar sua mente, conferindo toda uma atmosfera misteriosa em torno dos sentimentos e pensamentos da personagem. Chega a ser meio óbvio dizer que a possibilidade de surgir um romance entre um garoto e uma garota viajando sozinhos pelo espaço é grande. Esse ponto fica em aberto para vocês conferirem no anime, só adiando que o achei muito bem desenvolvido, mesmo tendo cara de que não irá satisfazer as fujoshi’s mais acaloradas.

A Light Novel de Seikai no Monshou

  E se você acha que Sword Art Online é inovador por ser um anime de sucesso baseado em uma light novel, saiba que Crest of the Stars já tinha conseguido essa proeza lá em 1999. Os livros de autoria de Hiroyuki Morioka foram publicados em 1996, sendo que a história englobada pelo anime está presente nos três primeiros volumes, que foram publicados nos Estados Unidos pela Tokyopop. Eu sinceramente desejo que o mercado de Light Novels cresça aqui no Brasil, afinal fiquei com muita vontade de conferir o original de Crest of the Stars (mesmo porque na minha cabeça a história funcionaria melhor como livro mesmo), que agora junta-se a lista do “sabe-se-quando-vou-ler”, já que prefiro mil vezes ter a obra em mãos do que ler na internet. Por enquanto a única alternativa é importar a versão em inglês, então se você for bom no idioma da terra do tio Sam, fica aí uma ótima dica.

Edições americanas de Crest of the Stars

  Sobre o final, sem dar spoilers, devo dizer que achei bem satisfatório. Muitos personagens, como a Seelnay, que eu já havia deletado da minha mente, tem o seu final devidamente mostrado. Até a Holia, a gata, ganha seu desfecho. Claro que nem todos são mostrados, como aquele amigo do Jinto, que é mostrado no episódio dois. Não que faça diferença, mas seria legal terem dito “óh, aconteceu isso com ele” para não dar ainda mais a impressão de que o começo é deveras enrolado.

  Respondendo à pergunta inicial desse post: Sim, animes antigos ainda podem ser considerados bons. Pessoas como eu, que, apesar de terem visto Dragon Ball e Cavaleiros do Zodíaco na TV, estão mais acostumadas a um belo visual do que a um enredo decente (Black Rock Shooter que o diga), deveriam se despir desse preconceito e dar uma chance para obras não tão recentes. Não é fácil, eu sei, já passei pelo processo. Inclusive demorei para abrir minha mente com relação a esse assunto, já que ele era mais subjetivo do que eu podia imaginar, mas garanto que o prazer de ver uma história ter um desfecho satisfatório é muito maior do que o de assistir uma abertura nova, bem animada, com músicas alegrinhas, que ilustram algo cujo conteúdo é de qualidade duvidosa.

  Assim deixo aqui meus sinceros agradecimentos ao Evilasio por ter me dado a oportunidade de conhecer esse anime e creio que o objetivo principal da Corrente de  Reviews, pelo menos aqui, foi cumprido. Isso é, o de apresentar à determinada pessoa uma obra que normalmente nunca seria vista por ela.

  Fiquem abaixo com o encerramento de Seikai no Monshou (a versão da Lafiel, claro, rs) e logo em seguida com mais informações e links sobre a Corrente de Reviews.

I WANNA FLY AWAAAAAAAAAAAAY

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Sobre a Corrente de Reviews

O projeto foi organizado pelo @didcart, do Anikenkai. Ele constitui basicamente em criar uma corrente (oh, sério?) onde um blog indica um anime/mangá para o outro e assim sucessivamente. Para conferir quem indicou o quê para quem e ter acesso à todas as resenhas que já foram ao ar, clique AQUI. Como já disse ao longo do post, quem me indicou Crest of the Stars / Sekai no Monshou foi o Anime Portfolio e eu recomendo para o blog Mangathering um anime que decepcionou muitos, mas ao meu ver tem muita coisa boa sobre a qual pode ser falada: [C]: The Money of Soul and Possibility Control ou apenas [C].

6 pensamentos sobre “Analisando Crest of the Stars/Sekai no Monshou para a Corrente de Reviews

  1. Ótimo texto! Fico feliz que no final tenha gostado do anime e admito que já esperava que falasse de muitas das coisas ruins que citou sobre a obra, porque eu mesmo pensei isto na primeira vez que vi o anime. Bem, se realmente tiver interesse a obra além de um OVA, possui uma continuação com duas temporadas, o título é Banner of Stars ou Seikai Senki, inclusive as mesmas são bem mais elogiadas que a primeira série.

    Agora admito que fiquei com um pouquinho de pena do Mangathering, porém estarei aguardando o post dele para ver estes pontos bons que citou serão descritos no texto desse blog.

    Até mais!

    • Fico feliz que quem me indicou o anime tenha gostado do texto. E, poxa, que vacilo eu ter esquecido de mencionar sobre as continuações. Tinha pesquisado um pouco sobre elas, mas são tantas ideias que acabei deixando passar batido.

      E, por que pena do Mangathering? haha Eu realmente gostei de [C], não foi uma indicação para avacalhar não. Em todo o caso eu estou pronto para defender o anime com unhas e dentes, rere.

      Até mais e seja sempre bem-vindo ao X.D. !

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